Serenidade em Serendib

Um expatriado inglA?s refaz a vida numa antiga jA?iado Sri Lanka.

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A temporada estA? no auge mas os hotA?is continuam vazios. “Este ano A? para esquecer”, diz Manfred com um encolher de ombros. Mesmo com o fim da guerra e a morte confirmada de Prabhakaran, o lA?der mA?ximo dos Tigres do Tamil, os turistas jA? nA?o vA?o incluir o Sri Lanka nos seus destinos de fA?rias.

TA?m sido tempos difA?ceis para Manfred. Ele nA?o o demonstra. Serenidade e nonchalance acompanham a caminhada deste inglA?s magro e atlA?tico com seis dA?cadas de vida no corpo. A nA?vel financeiro os A?ltimos anos foram duros para o hotel de Manfred: o tsunami e a guerra civil afastaram os turistas da ilha que Marco Polo afirmava ser a mais bonita do mundo, a antiga Taprobana do verso de CamA?es, a Serendib das fA?bulas A?rabes.

A praia de Arugam Bay, onde Manfred escolheu estabelecer-se definitivamente depois de uma vida a viajar pelo mundo, era um desses segredos dos trA?picos onde ministros, mochileiros, estrelas do jet set, jornalistas e pescadores analfabetos convivem unidos numa espA?cie de torpor fraternal.E o hotel de Manfred simbolizava essa harmonia. O hotel tanto tinha quartos de luxo como cabanas de palha, e o carisma do anfitriA?o estendia pontes entre os vA?rios hA?spedes como maionese numa salada russa. Poucas semanas depois de inaugurar uma ambiciosa remodelaA?A?o do hotel, chegou o tsunami e o investimento de uma vida desapareceu em poucos minutos. SA? o edifA?cio central, onde agora me instalo, sobreviveu. Manfred mais uma vez encolhe os ombros: “o importante A? que nA?o morreu ninguA?m. Se pensarmos que dez por cento da populaA?A?o de Arugam faleceu, nA?o me posso queixar do que perdi”.

A vida do meu anfitriA?o dava um livro, ele acha que nA?o. “Pelo menos”, sugiro eu, “uma coluna num semanA?rio portuguA?s.” Manfred acede a contar-me um pouco de si. Sei bem o que me fascina nele. A margem. A falta de convencionalismos. Uma contra-moral judaico-cristA? que nA?o tem nada de imoral ou indecoroso. Manfred A? talvez a pessoa mais libertA?ria e livre de preconceitos que eu conheci.TrA?s factores na sua biografia explicam-no. Nasceu em A?frica. Cresceu nos anos sessenta, “onde nada era ilegal ou proibido, um autA?ntico laboratA?rio de experiA?ncias psicadA?licas e contestatA?rias”. E passou a vida adulta longe do Ocidente, “em paA?ses onde tudo A? mais fA?cil e mais simples”.A mA?e, holandesa, morreu quando Manfred tinha 4 anos e o pai, embaixador britA?nico no Uganda, voltou a casar outras vezes – teve sete mulheres. Manfred nunca se ligou aos vA?rios irmA?os dos vA?rios casamentos e foi criado por diferentes amas africanas. “Essa inconstA?ncia de afectos moldou provavelmente a minha incapacidade em manter uma A?nica e duradoura relaA?A?o sentimental”.Como engenheiro civil ao serviA?o do ExA?rcito BritA?nico, Manfred passou toda a sua carreira a viajar, em comissA?es no estrangeiro: Sudeste AsiA?tico, AmA?rica Latina, Extremo-Oriente. “Na realidade, o A?nico lugar onde nunca vivi foi na minha prA?pria pA?tria”. Apaixonou-se sempre pelos lugares e pelas culturas onde se estabeleceu. E pelas mulheres desses lugares. “Ao contrA?rio do meu pai, eu nunca tive pressA?es sociais para me casar. Se gostava de uma mulher, simplesmente juntava-me a ela.”

Cada novo amor foi melhor que o anterior: “com a idade aprendes a estar numa relaA?A?o, a escolher a pessoa certa”, diz. Samloc, a actual companheira de Manfred, A? da TailA?ndia, mas com traA?os africanos. Explica-me que foi o fruto de alguma relaA?A?o passageira entre um soldado negro americano da guerra do Vietname em licenA?a em Banguecoque, e uma tailandesa mais generosa ou descuidada que o recebeu. Samloc nunca conheceu nenhum dos pais, foi deixada num orfanato logo apA?s o nascimento.A filha do casal, a Leila, faz hoje dois anos. Sabemos jA? que a beleza exA?tica de um cruzamento de genes tA?o distinto irA? destruir muitos coraA?A?es mais tarde. Manfred comenta, com um sorriso doce, a ironia da situaA?A?o: agora que tem idade para ser avA? A? que se sente pai pela primeira vez. “Das outras vezes nunca tive tempo nem oportunidade para ver os meus filhos crescer, andava sempre a viajar. Agora, estou a tempo inteiro com a Leila”. Quantos filhos tens, Manfred? “Dez, de mA?es espalhadas um pouco por todo o mundo: Filipinas, Brasil, Dinamarca,…”. Samloc interrompe-o. “A lista A? longa e ele mesmo se confunde por vezes”. Manfred conclui a conversa com uma simples mA?xima: “Uma mulher sabe sempre quantas crianA?as tem. Um homem sexualmente activo nunca pode ter a certeza.” Riem, os dois. A Leila tenta apagar as velas.

“Podia voltar A?s comissA?es como consultor para o ExA?rcito BritA?nico. Resolvia logo os meus problemas financeiros.” Mas nA?o hA? dinheiro que pague estar fora de Arugam, longe da Leila. O sol jA? estA? menos forte e as velas do bolo foram apagadas. Pai e filha seguem para o habitual banho de luz e serenidade nas ondas de Arugam, antigo segredo dos trA?picos.

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